Desafiante ao cinturão dos médios (até 83,9kg.) no UFC 293, Sean Strickland está longe de ser uma unanimidade quando avaliadas as qualidades técnicas dentro do Ultimate. O lutador, no entanto, cumpriu bem o papel de apagar a passagem apagada na categoria dos meio-médios (até 77,1kg.) e, com o famoso ‘arroz com feijão’, surpreendeu ao se tornar destaque na categoria liderada por Israel Adesanya.
Apesar de tropeços nas lutas contra Alex Poatan e Jared Cannonier, o saldo do ‘bad boy’ é positivo no grupo. Tal estabilidade acabou rendendo ao lutador uma disputa de cinturão inusitada – conquistada, em grande parte, pela falta de adversários inéditos ao campeão, é bem verdade.
Para os que entendem Sean como uma potencial presa fácil a Israel, não se preocupe. Você está longe de ser único. No entanto, podemos tentar encontrar uma ‘luz no fim do túnel’ para o norte-americano no maior desafio de sua carreira.
Veja bem: não tentarei iludir ou mudar o pensamento daqueles que enxergam a grande superioridade técnica do campeão diante do rival do UFC 293. O histórico de Adesanya e os feitos na categoria falam por si só.
Aprenda com o carrasco
No entanto, afirmo que Sean Strickland está longe de ser um lutador ingênuo e a atitude tomada após a dura derrota para Alex Poatan, em 2022, confirmam meu pensamento. O que fez falastrão depois de deixar o ego falar mais alto e se dar mal ao tentar trocar de igual para igual com um ícone do kickboxing? Respondo: foi aprender com seu carrasco.
Na temporada passada, Strickland acabou se tornando um dos parceiros de treino de Alex e recebeu elogios por parte do brasileiro. De fato, Sean continua subindo no octógono e performando com sua guarda curiosa.
O poder de nocaute segue quase nulo e dificilmente aparecerá contra um atleta letal como é Adesanya. Então, em que Alex pode ter influenciado na evolução do norte-americano? Explico. Para assumir a condição de desafiante – posto que não veio de graça -, Strickland passou por Nassourdine Imavov e Abus Magomedov, atletas considerados promessas da empresa. E o que Poatan tem a ver com isso?
Observar e absorver
Seria impossível e irresponsável acreditar que, com algumas sessões de treinos, meses, ou até anos, Sean se tornaria um kickboxer de elite. No entanto, há fatores que precisamos levar em consideração. Além do cruzado letal de esquerda, qual é outra característica de Alex que o fazem um sucesso nas artes marciais? A precisão. Isso, de fato, pode ter sido um ganho em potencial no estilo do norte-americano.
Veja bem: Strickland é conhecido por vencer seus adversários na decisão dos juízes. Um lutador que não se envergonha de utilizar os 15 ou 25 minutos de confronto (três ou cinco rounds) para levar a vitória para casa. A luta estratégica contra Imavov, a qual ele assumiu o desafio de última hora, é prova disso.
Contra Abus Magomedov, apesar do duro nocaute conquistado sobre o rival, a paciência também foi destaque. Para quem não lembra, Sean passou por maus bocados no primeiro round diante da promessa russa, mas não deixou a emoção o corroer. O ‘bad boy’ entendeu que sucumbiria, caso caísse no jogo do último oponente, e isso não é sorte. É treino, estratégia de luta. O famoso ‘Q.I’ para confronto. Um plano funcional seguido à risca, algo que o disciplinado Poatan certamente absorve em sua rotina com Glover Teixeira, pode ser colocado em prática contra o campeão dos médios.
Ele não é ingênuo
Há alguns dias, Sean ‘causou’ ao afirmar que não tentaria usar o wrestling ou jiu-jitsu, pontos fracos de Israel. A situação se assemelha ao erro cometido diante do próprio Alex e, como já citei anteriormente, não acredito que o norte-americano seja ingênuo.
O lutador sabe que não goza de prestígio com uma parcela dos fãs do esporte, seja por seu estilo ou por declarações polêmicas feitas ao longo de sua trajetória na categoria. Assim sendo, o desafio contra Adesanya pode ser considerado, em parte, como único. Se perder feio, o norte-americano, como já dito pelo próprio atleta, pode cair no esquecimento.
Então, por que colocar tudo a perder por teimosia? Poatan pode ter sido importante para afiar a trocação de Strickland, mas acredito que o lado mental possa ser a arma mais poderosa de Sean no desafio. Disciplina combinada com técnica e treinos fizeram de Alex um fenômeno relâmpago do UFC. Para mim, o ‘bad boy’ está a anos luz do que o brasileiro pode cumprir no esporte, mas até que o anúncio oficial da luta seja clamado por Bruce Buffer, nada está perdido.
Existe uma chance
Novamente afirmo: não estou aqui tentando convencer de que Strickland chocará o mundo no fim de semana. O norte-americano estará na ‘casa do adversário’, em território inimigo, e diante de um dos melhores da história. Mas já vimos os astros se alinharem e promoverem campeões que fogem à lógica. Michael Bisping está aí para contar essa história.
Se Strickland tem uma chance, que se apegue a ela e não tente fazer mais do que é capaz. O ‘arroz com feijão’ o levou à disputa de cinturão. Talvez o ‘arroz com feijão’ o salve da derrota vexatória que muitos esperam no UFC 293.
Resumindo: Strickland não é ingênuo. Strickland tem uma chance.