Deixando as comparações com Anderson Silva para uma outra oportunidade, é indiscutível que Israel Adesanya tem escrito seu nome a ouro no Ultimate, pelo menos quando consideramos o peso médio. No entanto, o talento acima da média do nigeriano pode colocar os fãs de MMA em uma ‘enrascada’. O que acontece quando um atleta ‘limpa toda uma categoria’?
Pois bem. No ‘Blog da Redação‘ da semana, tentarei explicar: o que pode ocorrer se Adesanya derrotar Robert Whittaker no UFC 271, em revanche válida pelo cinturão da divisão até 83,9kg?
Primeiramente, há de se deixar claro o respeito pelo neozelandês, que fez por merecer a condição de desafiante, não escolhendo rivais e passando por três desafios exigidos pelo Ultimate, até chegar no ‘chefão’; Robert, apesar de ser parte importante na história, não será inserido neste momento.
Há pouco mais de dois anos como ‘rei absoluto’ dos médios, Adesanya se encaminha para sua quarta defesa de cinturão. No trono desde 2019, o atleta enfileirou Yoel Romero, Paulo Borrachinha e Marvin Vettori, passando sem maiores problemas por todos os perigosos rivais – ao menos no papel.
Desafiante a desafiante derrotado, Adesanya sempre olha adiante na divisão. No entanto, chegou o curioso momento em que o atleta parece caminhar em círculos. Explico.
Quando superou Vettori, o desafio contra o italiano marcava a reedição de um confronto realizado em 2018. É bem verdade que o primeiro encontro ocorreu de forma equilibrada, sendo resolvido na decisão dividida dos juízes. Em revanche, na temporada passada, só deu Israel.
Entre os dois primeiros desafiantes de ‘Izzy’, Romero levou ‘seu jogo’ para a concorrência e, hoje, tenta brilhar no Bellator. Borrachinha, considerado por muitos como o maior desafio para Adesanya em 2020, acabou facilmente superado pelo campeão, sendo nocauteado no segundo round. Na tentativa de se reaproximar do nigeriano, o mineiro acabou parando em Vettori e, atualmente, é pouco citado quando o assunto é a disputa de cinturão nos médios.
E agora, UFC?
Chegamos ao UFC 271. O campeão tem novamente um velho conhecido. Whittaker, destronado por Israel em 2019, tenta retomar o posto de líder do grupo. Agora, a maior questão: Robert pode ser herói, ou vilão, dependendo do ponto de vista.
Hoje, Israel Adesanya é uma das maiores estrelas do Ultimate. Seu sucesso, literalmente, é o sucesso da organização. Um resultado positivo do atleta, no entanto, coloca em xeque o engajamento na divisão, pois, no top 5, apenas Jared Cannonier – que também luta em 12 de fevereiro – não dividiu o octógono com o atual campeão. De resto, ‘Bobby’, Vettori, Derek Brunson e Borrachinha sucumbiram ao talento de ‘Izzy’.
Então, os fãs do peso médio devem torcer para Whittaker? Não necessariamente. Um eventual triunfo de Robert, de fato, daria um ‘respiro’ aos integrantes da categoria, inevitavelmente. Por exemplo: Marvin Vettori é o atual número dois no grupo e vinha em grande fase na companhia, até desafiar Adesanya e ser anulado por grande parte do confronto. Como não ofereceu perigo real ao nigeriano, o italiano dificilmente receberá uma trilogia. Agora, se Robert vence, é uma novidade para os fãs, para o Ultimate e ‘menos mais do mesmo’.
O mesmo serve para outros atletas, como Borrachinha. Embora viva um momento inédito em sua carreira, com dois tropeços em sequência, o mineiro pode retomar o prestígio com a empresa repetindo atuações que o levaram a encarar Israel em 2020. Com um atropelo e Whittaker no trono, o brasileiro volta a ter seu nome cogitado.
Também não podemos descartar que, se Robert vence Adesanya em um confronto equilibrado, uma trilogia seria a decisão mais rápida, viável e rentável para a companhia. Desta forma, o hiato de desafiantes poderia ser prolongado até, quem sabe, o fim da temporada 2022.
Um conselho que eu daria a todos os demais atletas dos médios: entreguem grandes lutas e treinem dobrado. Israel, hoje, é uma realidade e carrega consigo um estilo que poucos apresentam atualmente.
Para mim, não existe um competidor invencível, seja lá qual for a modalidade. Mas, preparem-se, pois, em caso de vitória, Adesanya pode ‘empacar’ a divisão dos médios e retomar o sonho – frustrado em 2021 – de ir aos meio-pesados (até 93kg.) para novas conquistas, e, por ora, esquecer que tem um ‘castelo a vigiar’.
Se Whittaker ‘cai’, quem resta para Adesanya?
A maior preocupação, caso Adesanya vença é: quem enfrentar na sequência?
Como já citado, apenas Cannonier, no top 5, ainda não amargou uma derrota para o atual campeão. Saindo da ‘caixinha’ e pensando fora da elite, a organização tem o polêmico Sean Strickland, que está invicto na divisão, segue vencendo, mas não tem empolgado nas últimas performances. O norte-americano, hoje, é o sexto do grupo.
Quando se fala de Israel, principalmente a torcida brasileira, agora, já pensa em Alex Poatan. É fato que a lenda do kickboxing estreou de forma épica na empresa, mas o carrasco do nigeriano nos tempos de Glory sequer figura no top 15 dos médios. É surreal, então, pensar no tupiniquim como possível desafiante? No momento, sim. O atleta precisa bater um adversário ranqueado para que não seja apenas uma sombra de ‘Izzy’ pelo que fez no passado. O duplo campeão mundial de kickboxing precisa de mais testes, como já apontado pelo próprio Adesanya.
O improvável, portanto, pode acontecer. O momento em que um talento individual pode prejudicar, de certa forma, o futuro de toda uma categoria.
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